terça-feira, 24 de setembro de 2013

Entre o Céu e a Terra






"Já era",
ela pensou.
Quando a corda no seu pescoço apertou
e seus pés não encontraram onde se apoiar
se arrependeu quando viu que não tinha mais jeito
e só por um momento pensou em poder voltar
Não podia.
Mas não demorou a asfixia
e seus pensamentos silenciaram com um apito
Sentiu seu pescoço inchado, corpo em delito
até um viu arroxeado com os olhos de fora
Agora tudo que via era a luz quente
seu corpo pendurado entre o céu e a terra
e um prazer de sentir-se em paz finalmente.
Não demora.
Quando perguntada se queria voltar
sem pensar, sem poder se lembrar como era
respondeu que queria,
e lá jogou fora toda sua vida vazia
e todas as dores de antigas histórias
como se vivesse na escuridão

sempre com a impressão metafórica
de que seus pés não tocavam o chão
sempre com a expressão de quem chora
e não consegue ter a paz de volta.


Isa Blue

sábado, 7 de setembro de 2013

Memorial de Lilia

Em agradecimento à Thamar por ter me dado o prazer de ler o seu fabuloso livro. Conheçam:


Matemática

Eu tive hoje duas alegrias.
[Não foram felicidade.
Felicidade é outra coisa.]
E tive uma tristeza profunda.
Portanto, longe de declarar-se empate.

A tristeza ganha da alegria,
pois a quantidade que conta,
nesta inexata matemática,
não é a numérica,
é a sentida.

Mas quem sabe, amanhã,
o placar não muda?
Tristeza profunda tem disso:
faz a gente enxergar
o que nunca antes havia visto.

Portanto, há grandes chances
de mudar o jogo, de virar a maré.
E eu terminar o meu dia,
com vinte alegrias no bolso,
e uma tristeza pequenininha no pé.


Thamar de Araujo Gaiser, em "Memorial de Lilia".