Bem que você poderia me ligar agora à noite.
Você poderia me ligar e eu iria parecer surpresa e você me pediria desculpa pois não devia ter ligado, mas sem saber que eu vibrei e um sorriso se abriu quando vi seu nome no celular.
Você diria que está com saudade e eu diria que também estou, mas é lógico que você duvidaria, ainda que fosse uma falsa dúvida, só pra me fazer jurar, afinal, nunca sou eu quem digo que está com saudade primeiro. E você me pediria para ir até sua casa e eu daria uma desculpa qualquer pois sei que se eu for até lá, não sairei até a manhã e, por consegüinte, não conseguiria dormir. E por isso você pediria desculpa mais uma vez e eu sentiria seus olhos de desenho animado e teria vontade de te abraçar tão apertado de modo que meu corpo entrasse de vez no seu corpo. E então você desligaria prometendo me ligar amanhã e eu responderia qualquer coisa com uma voz suave e sem transparecer metade do que eu sinto quando estou com ou sem você. E ficaria um silêncio qualquer no ar, como se faltasse dizer alguma coisa da qual eu já não me lembro mais. Ou talvez, não possa lembrar. Nem sequer pensar.
Mas na verdade pode ser algo muito simples que não deva mesmo ser pensado. Porque quando estou com você, as coisas não querem ser pensadas e é por isso que rimos juntos de todas as besteiras.
E se você me ligasse, eu não ia falar disso porque, pra falar, as coisas têm que ser pesadas e não sentidas.
Se você me ligasse essa noite, eu iria dizer "eu também" quando você me dissesse que está com saudades, e iria me despedir mandando um beijo, e iria te atender com um sorriso disfarçado como se você pudesse me ver, como se fosse proibido me ligar, e iria ser fria como sempre, e iria vibrar quando visse seu nome no celular, e iria dar uma desculpa qualquer para não ir até sua casa e ficar com você até amanhecer.
E talvez um dia eu me arrependa desse silêncio que fica, mas parece que desaprendi as palavras exatas.
Ou talvez eu não possa lembrar. Nem sequer esquecer.
Isa Blue