segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Boca Aberta (Réquiem)



Mariposas beijam minha boca aberta
os sorrisos deixam a vidraça inquieta
e o vento entende sua flor dormida
se o herói roubar a tua voz florida
e o silêncio em mim te balançar por dentro
onde vai pousar o descontentamento?
Como vai seguir sem tua sina amiga?
a beijar o chão com tua mão ferida
a roubar o frio em tua boca torta
inquieta e louca a tua pouca rota
te trazer a paz em tua rota vida
se em mim balança aquela flor caída?
se em ti balança aquele amor tardio
se em mim se lança sem um só vazio
me contenta o chão que o teu sorriso pousa
com a boca aberta cheia de mariposas.


Isa Blue

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Ninguém vai dizer que eu não te amei




Ninguém vai me dizer que eu não te amei o suficiente
Que eu não copiei o recado
que eu não abracei o sentimento
e não entendi o significado
Só eu que sei o quanto me doei
e o quanto me doeu
sua ausência por completo ou por pedaços
Todas as brigas que eu sofri junto
Todas as faltas que eu provei só
Tudo que me passou pela cabeça
nas noites de lua em que você não estava
Eu que sei o quanto chorei por você
pelo tudo que sonhei e que não podia ser
e achei até que eu gostava mais da parte
que me faltava.
Mas não.
Era a parte que era inteira e eu não enxergava.
Nada estava pela metade.
Onde eu andava, ali estava,
e nada faltava exceto a coragem.
Quantas vezes pensei em desistir
jogar tudo pro alto e seguir adiante.
Com o coração tão pesado que jamais amaria
e nunca mais seria feliz o bastante.
Nunca mais. Quanto doeu!
Brigar com o mundo por causa de uma discussão
que nem era minha e você ali não percebia
que não era pelo molho, pelo troco, olho por olho
mas era por você e pelas impossibilidades.
E que ainda hoje você não entendeu...
Eu que comemorei todas as vitórias secretamente,
enquanto você chorava também entre 4 paredes,
porque nenhum queria fazer papel de mau pro outro.
Às vezes você tem que fazer esse esforço.
Não, você não vai dizer que eu não te amei
que eu não aguentei, nem segurei a onda.
Eu segurei sozinha todas as ondas, as pontas e as brasas, mora?
E no fim, pra nem saber se ia dar certo de fato.
Não tem como.
Mas depois de tantos anos, a gente pensa:
- Vamos esperar mais um pouco?
Se não rolar, paciência, mas eu fiz o esforço.
Há que se ter força. E persistência.
E acima de tudo amar o outro.
Ninguém vai me dizer que eu não te amei o suficiente
Eu te amei mesmo antes de te amar.
Eu amei a ideia de te amar.
Eu te amei quando amar não era o bastante.


Isa Blue

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Parte de Mim

(Tela de P.Picasso)


Parte em mim acredita
Parte em mim morreu
Parte em mim mistifica
Parte em mim já cresceu
E de partes em partes se montam vitrais
da arte em vidro tão frágeis sinais
se movem caleidoscopicamente nos ares
partes das partes dos pares

Cara-metades, cara-retalhos, cara-farelos
me encaram armadas todas patentes do meu flagelo
Se ofuscando, me limitando a ser pedaços
Partes que em mim se buscam, partes que em mim desatam
Parte em mim me toca
Parte em mim me trai
Parte em mim concentra
Parte em mim distrai

Parte do que é parte
Parte do que é de mais
Parte da parte do outro
Parte da arte que jaz
Pensamentos que voam disléxicos em plena luz do dia
Castidade, exílios, complexos planos suicidas
Nada do que é concreto, do que é exato, do que é bonito
Apenas o corpo em frangalhos, o grito no espaço, o desconhecido

Parte do que é amor
Parte do que é esquisito
Parte do que me corrói
Parte do que me divido
Tudo que em mim faz parte da parte de mim que não satisfaz
Deixa meu corpo mais tarde e parte pra sempre num flash de paz
Quando o escuro revolve e o tiro é certo num leito fugaz
Parte das partes em sopro de um sonho inteiro que nunca, jamais.


Isa Blue

domingo, 10 de agosto de 2014

Pe da ços



Se não tinha nada a ver você me chamar
por que você me chamou?
Se eu ando na rua só pra te encontrar
por que não sei aonde vou?
Há tanto pensamento no ar
coisas que não servem pra dizer
histórias que eu quero contar
pedaços ausentes de você

Se não tem nada a ver me contar
por que você me deixa saber?
Por que você me deixa insegura
se me ama e me quer pra você?
Há tantas coisas na minha cabeça
parece que estou de chapéu
moscas que quero espantar
pedaços ausentes do céu

Se você quer a felicidade integral
por que não procura por ela?
Por que você deixa as minhas lágrimas
borrarem toda a aquarela?
Há tantas coisas que não fazem sentido
eu gosto das coisas assim
tudo o que eu sinto eu perco
pedaços ausentes de mim


Isa Blue

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Quase

(tela de Lora Zombie)


Quase

É preciso ouvir os seus sussurros
quando o silêncio nos aflige ao quase máximo
É preciso se descer do grande muro
para evidenciar nossos naufrágios.

Se segue o tempo e a sua cortina de fumaça
Na sua vida nada se entrega ou se estraga
Não podemos deixar o tempo nos dizer
o que temos que sentir, como temos que ser.

Não há tempo de ferir a madrugada;
precisamos enxugar as nossas mágoas
não há mais que o silêncio no meu quarto
se perdendo nos gemidos do teclado.

É difícil acompanhar o pensamento
se elevando por detrás dos cães sarnentos
se estamos todos sãos e quase salvos
só me diga onde está a flecha e o alvo.

Em você não há pinturas de guerra
há somente a minha e a tua boca aberta
pra livrar a gente do temor que corre
sobre os trilhos de quem ama e nunca morre.

Não há nada de tão lento no destino,
há somente o medo isento de princípios
A vontade de afastar os seus exércitos
e o outro lado entre o longe e o quase perto.


Isa Blue

domingo, 1 de junho de 2014

Nublado



É estranho.
Acordar nublado com o tempo.
E tão coerente todas as coisas de fora.
E tão incoerente todas as coisas de dentro.
É tudo assim, estranho.

Todas as vezes que senti o tempo nos últimos três anos.
Todas as vezes que me senti o último em três tempos.
Mas não me engano. Não, isso eu já parei de fazer.
Deixamos que o tempo acobertasse um sentimento
sem pedir licença ou consentimento.
E, se esquecemos por um momento a verdadeira cara do tempo,
é que não fomos cuidadosos o suficiente.

Deficientimos muito.
O tempo que rouba nossas ciências, nossas explicações
e nossas justificativas que nada significam para nós.

Bastamos olhar.
Que olhando nós procuramos enxergar e sabemos que estão lá
as mesmas respostas que nos procuram sem encontrar.

Isa Blue

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Velhice



Velhice

Cada vez menos tempo no relógio
tiquetaqueando ameaçadoramente
Não é a vida que escolhemos,
é a vida que nos escolhe
e as nossas não-escolhas
que nos assombram pra sempre

Cada vez menos momentos de festa
ziguezagueando sorumbaticamente
Se enfim nos encontramos
muito menos nos perdemos
e quanto mais procuramos
mais no fundo de repente

Cada vez mais rugas no rosto
zunzunzando no sorriso da gente
Corta lá, puxa ali
traz pra cá, pinta aqui
vitrines de embustes
esforços inúteis
antes de cair inevitavelmente

Cada vez mais coisas pra esquecer
tintilando na cabeça doente
a conta, a cota, a porta
o ente, o dente, o rosto
O tempo em nós como bomba
vestindo-nos em sua roupa
assustadoramente


Isa Blue

terça-feira, 22 de abril de 2014

Dama da Noite


Vagando pelas sombras no curto espaço entre si e a eternidade, ela estava em flor e procurava um ser que a encontrasse.
Seguia a lua brilhante e conversava com o vento que arrepiava suas entranhas quando puxava sua crina selvagem. Na carne ela sentia o desejo, a fome. Na pele, subindo pelo seu sangue. Ela fervia a febre em seu rosto suado e expulsava o vazio em seu peito, querendo pulsar demônios pela boca.
Estava tão nua de si que o vestido vermelho podia ser sua pele. Desejava como um animal no cio, cegamente, deseja qualquer macho que esteja à sua frente.
Mas ela não encontrou machos, apenas esses agonizantes pombos de terno e gravata, presos nas correntes de uma sociedade que não conhecia a sua febre de ser tocada e possuída, primeiro pelas beiradas, como se prova um sorvete, depois, com fome de bicho que mastiga sua última refeição.
Talvez ela tenha achado que o mar pudesse lhe acariciar e lhe bater como ela precisava, talvez ela tenha sido enfeitiçada por um tritão, quem sabe. O vestido vermelho foi encontrado sobre as areias. E seu corpo se desfez nas águas orgásmicas do mar.

Isa Blue

segunda-feira, 3 de março de 2014

Página no Face

Amigos, estou também com uma página do Facebook, homônima do primeiro livro, onde posto...bem, tudo aquilo que vocês já sabem.
O endereço é: https://www.facebook.com/osimpublicaveisdeisablue


terça-feira, 14 de janeiro de 2014

OS IMPUBLICÁVEIS

Os Impublicáveis de Isa Blue - meu primeiro livro a ser lançado em versão impressa e versão digital - está disponível para compra no Mercado Livre (cartão, depósito, transferência, boleto, massagem de ego, etc.), através do link:
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Ou por e-mail, através de depósito bancário: isapunkblue@gmail.com



Dados técnicos:
VERSÃO EBOOK
Formato: pdf
59 páginas
Gênero: Poesia & Poesia em prosa
Prefácio: Beatriz Provasi
Capa: inclusa, com textos de orelha
Recebimento: por e-mail


OBS: Para comprar o livro em versão física, apenas pelo link (com desconto até dia 20/janeiro): https://agbook.com.br/book/128487--OS_IMPUBLICAVEIS_DE_ISA_BLUE