segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Dando Bandeira...




Outro dia estava aqui numa bronca do mundo e pensei: "Vou pegar Manuel Bandeira e ele me dará uma resposta!". Abri numa página a esmo e lá estava:





A VIDA ASSIM NOS AFEIÇOA


Se fôsse dor tudo na vida,
Seria a morte o grande bem.
Libertadora apetecida,
A alma dir-lhe-ia, ansiosa: - "Vem!


"Quer para a bem-aventurança
"Leves de um mundo espiritual
"A minha essência, onde a esperança
"Pôs o seu hálito vital;


"Quer, no mistério que te esconde
"Tu sejas, tão-somente, o fim:
"- Olvido imperturbável, onde
"Não restará nada de mim!"


Mas há horas que marcam fundo...
Feitas, em cada um de nós,
De eternidades de segundo,
Cuja saudade extingue a voz.


Ao nosso ouvido, embaladora,
A ama de todos os mortais,
A esperança prometedora,
Segreda coisas irreais.


E a vida vai tecendo laços
Quase impossíveis de romper:
Tudo o que amamos são pedaços
Vivos do nosso próprio ser.


A vida assim nos afeiçoa,
Prende, Antes fôsse toda fel!
Que ao se mostrar às vezes boa,
Ela requinta em ser cruel...




Manuel Bandeira.