Vagando pelas sombras no curto espaço entre si e a eternidade, ela estava em flor e procurava um ser que a encontrasse.
Seguia a lua brilhante e conversava com o vento que arrepiava suas entranhas quando puxava sua crina selvagem. Na carne ela sentia o desejo, a fome. Na pele, subindo pelo seu sangue. Ela fervia a febre em seu rosto suado e expulsava o vazio em seu peito, querendo pulsar demônios pela boca.
Estava tão nua de si que o vestido vermelho podia ser sua pele. Desejava como um animal no cio, cegamente, deseja qualquer macho que esteja à sua frente.
Mas ela não encontrou machos, apenas esses agonizantes pombos de terno e gravata, presos nas correntes de uma sociedade que não conhecia a sua febre de ser tocada e possuída, primeiro pelas beiradas, como se prova um sorvete, depois, com fome de bicho que mastiga sua última refeição.
Talvez ela tenha achado que o mar pudesse lhe acariciar e lhe bater como ela precisava, talvez ela tenha sido enfeitiçada por um tritão, quem sabe. O vestido vermelho foi encontrado sobre as areias. E seu corpo se desfez nas águas orgásmicas do mar.
Isa Blue