sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Queria ser um poeta...







Queria ser um poeta do século passado

Queria escrever um poema brega
falando das árvores, das flores
falando do vento, das cores
da manhã e de tudo que eu não vejo nesse momento
Queria um poema cego
surdo, mudo, careta
Um poema sentado num banquinho
olhando a praia de Copacabana
Queria nesse momento escrever sobre o mundo
O mundo que não me vê
O mundo que não entende
por que eu não posso escrever
Queria rimar amor com dor, ar com ar
seguir a técnica, fazer um soneto
usar palavras difíceis pra encher linguiça
e me esquecer ao que vim
Queria ser um velho poeta caído do século passado
empoeirado numa estante sendo comida de cupim
tocar meu violão dizendo paz&amor
ouvir quê dizem as rosas do jardim
Queria por um instante dizer nada com nada
não escrever poemas, apenas jogar palavras
chamar poema de poesia, se fingir de alienado
procurar uma rima sem contexto, sem pecados
Queria ser um poeta chato, maçante, intelectualóide
Que entrou pra academia e se mumificou naquela poltrona
e nunca levantou a voz pra ler um poema
e nunca gritou pelas ruas de madrugada
Que nunca amou com exagero e intensidade
que nunca chutou uma lixeira por revolta
Que nunca bebeu uma cerveja no gargalo
que nunca fumou chá de saquinho pra ver se dava onda
Que nunca sentiu o poder de conversar com Iemanjá no meio das ondas
que nunca fez uma garrafa de poesia e jogou ao mar
Que nunca soube o que era arte
que nunca fez nada visceral além de cagar
Que nunca escreveu um palavrão que nem mesmo ousou falar
que nunca se perguntou se devia continuar
Que nunca quis se matar
que nunca saberá da minha existência
que se souber, vai se incomodar
Queria eu ser um poeta de merda dizendo mentiras
fingindo que a vida é bela só pra variar
Dizendo que estes revolucionários não sabem o que é arte
dizendo que a poesia morreu no século passado
Mas não sei por que diabos eu gosto de ser jovem
Ainda que estes anos me acordem dia após dia
Eu me conformo em ser um destes revolucionários
que não sabem fazer poesia!


Isa Blue
Ele tinha uma alegria inteira que pulsava dentro
e explodia por todos os poros
Uma agitação, uma inquietação de sorrisos
e me mostrou que não se deve ter medo
de cair e nunca mais levantar
porque a gente já sabia voar
Era que a gente tinha uma chave mágica
pra lidar com essas coisas da vida
Era só a gente sorrir pra noite
que enchia as ruas de poesia
Ele tinha uma alegria inteira que completava a minha
e me ensinou que a vida é simples quando a gente deixa ela sorrir.



Isa Blue (a um pássaro secreto)

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Por onde a gente vai...


A PASSAGEM
(Ledo Ivo)

Que me deixem passar - eis o que peço
diante da porta ou diante do caminho.
E que ninguém me siga na passagem.
Não tenho companheiros de viagem
nem quero que ninguém fique ao meu lado.
Para passar, exijo estar sozinho,
somente de mim mesmo acompanhado.
Mas caso me proíbam de passar
por ser eu diferente ou indesejado
mesmo assim eu passarei.
Inventarei a porta e o caminho
e passarei sozinho.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Hino do Brasil (Reformulado)

Essa é uma letra minha em homenagem a todos os brasileiros, principalmente aos que Vêem.


HINO DO BRASIL - Reformulado
(letra: Isa Blue)

Ouviram-me pirando nessas páginas
Um corpo cai sem um braço retumbante
E sem a liberdade, ensaio fútil
Brincou de ser a pátria figurante

Se o senhor da minha vontade
conseguirmos subornar com carros-fortes
Pelo meio, a liberdade
De um jeito decadente e sem suporte

Ó Pátria armada,
Idiotizada
Salve! Salve!

Brasil, um sonho enterro, em solo esquecido
De inveja e de ganância o olho cresce,
Se em teu feioso céu cinzento e ríspido
A miragem do Real desaparece

Diante dessa nossa "esperteza"
É pelo esporte que cometo o roubo
E o meu futuro é pela safadeza

Terra roubada,
Ninguém te viu
no meu Brasil
com notas falsas!
Desvio deste solo a um mais gentil
E vão
pra puta que o pariu!


Deitado vendo TV eu me esqueço
Do som dos gritos vindos lá do fundo
Censura no Brasil fodão da América
Alienados no Terceiro Mundo.

Mas na Terra já sofrida
Seus tristonhos filhos brancos em TV à cores
Nossos jovens não têm vida
E nossa vida é a Bolsa de Valores.

Ó Pátria armada,
Idiotizada,
Salve! Salve!

Brasil de amor eterno, cego e cínico
A lábia que ostentas do meu lado
E diga o velho agouro, o céu em chamas
Paz pr'um futuro povo sem passado.

Mas se esquece em dar justiça à massa pobre
Verás um filho teu jogado à rua
Com fome, como escória, à própria sorte.

Terra odiada,
Entre outras mil
É a mais hostil
Mais enganada!
Teus filhos estão mortos, mãe gentil
Pútrido Brasil!