quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Mortos-Vivos

Ando me arriscando mais na prosa, quero trabalhar isso, é um jeito de dizer coisas mais fiéis ao que elas realmente são. Estou precisando ser um pouco mais transparente para expelir alguns vícios poéticos, de dizer muito e o muito passar a ser outra coisa para ter um fechamento ou uma rima ou um ritmo. E, poda por poda(phoda), a gente acaba lapidando nossas primeiras importâncias.


Faço perguntas estranhas a estranhos sem rosto, e nenhuma resposta me surpreende. E toda essa singularidade me limita. Em quê ouvidos vou dispersar os vivos, revisitar os quase-mortos com as mãos dos seus assassinos? Onde vou encontrar alento se ela olha pro céu e o céu não me vendo? As respostas estão ao lado e não cheiram bem. Se eu chover, você vai ficar ensopado.
Onde andam as estrelas de pedidos, onde é o céu dos perdidos? Ontei saí costurando com espinhos de uma flor, já há muito sêca. Sêca como o sertão. Passa inverno, outono, primavera, verão e ela murcha. Nada vai salvar a flor pisada, nem água, nem sol, nem adubo, a raiz está morta como uma porta fechada.
Ando saudando os mortos, vivos nas lembranças tanto quanto preciso. Como deixar de pensar no que eu ainda sinto? Por mais que o mundo gire pro outro lado, meu pensamento embriagado, desenfreado, anda na contra-mão, avança o sinal, corta as placas de perigo e bate no muro de tijolos. Assassinos tijolos confortam meu caminho tortuoso. Mataram o que era fácil e simples.
Eu me sinto meio morto em meio às decisões. Quê poder tenho eu pra contradizer? Minha voz? Eu grito e você não me vê. Tô aqui do seu lado, o céu ainda está muito mais longe, pra onde vão seus olhos depois que eu fechar os meus? Não há deus que me ofereça conforto. A morte me fez ateu. Seria glorioso ser só um corpo. Ser só meu. Só eu. Alma? Amor? Sentidos? Adeus.


Isa Blue.



"Ontens e hojes, amores e ódio,
adianta consultar o relógio?
Nada poderia ter sido feito,
a não ser no tempo em que foi lógico."
(Paulo Leminski)

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