quarta-feira, 28 de abril de 2010

Naviagem Fantástica



Onde estive enquanto o céu concebia estrelas? Por onde andou a minha louca lucidez? Estive em outras galáxias, explorei formas lúdicas, ludibriei dos inocentes cometas sem rabo. Não vi a vênus nua. Não saciei a sede dos marcianos. Não levei a Layka pra lua.
Eu fui numa naviagem fantástica à Órion dos teus olhos. Eles te órion, eu te ouro. Tesouros perdidos nos teus olhos.
Nuvens. Tuas mãos são nuvens, me molho.
Fujo da finda infância e finjo que me afogo nos teus afagos.
Não há nada que faça sentido-horário se eu não sinto teu tempo, eu pressinto, eu protejo, eu praguejo, eu projeto o infinito universo inverso complexo da tua pele polida, do teu sorriso dislexo, do teu olhar frenético, do teu cabelo sintético.
Eu idiotizei o mundo, idealizei teu nome frente a tudo, ao tempo à trote.
Quando nasci, desci do céu por um fio de cabelo grisalho, rompi com Deus, fundi o fuso-horário, quebrei os ponteiros, ameacei o sol mas fui sumindo, devagar e sempre.
Daí eu resolvi fugir, morder a lua, salpicar estrelas nas minhocas pra ver se elas secam. Resolvi rever meus confeitos e espalhar confetes. Não, não quero a lucidez branca e insossa do sistema terrestre. Vou te visitar na invenção do Universo, lá na dobrinha do universo, fonte do orgasmo desembestado dos planetas, onde tempo nenhum me cansa, tampouco foi criado. Na quinta dimensão negra e clara e sem fim e sem mim e sem nada.
Não há nada que faça sentido quando estou contigo. Você nasceu de cara pro infinito. O tempo não precisa de você pra nada.


Isa Blue

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Notícias do Dia



Matéria de jornal:
guerra, fome, morte, assalto
roubo, política, sacanagem, hipocrisia
quem ganhou o BBB
o novo livro do Pedro Bial
- eu nunca vou ler essa porra! -
a peituda do dia
o desperdício cerebral...
qual vai ser a nova celebridade
que vai enxugar o xixi
das minhas cachorras?




Isa Blue

sábado, 10 de abril de 2010

Baratas nojentas




Tem coisa mais nojenta do que barata? Elas ficam lá com suas perninhas cruzadinhas, fazendo pose de galinha assada, mas cheias de não-me-toques.
Morrem de perninhas pra cima, num teatro canastrão, arreganhadas, como se o mundo se interessasse em ver suas partes baixas. HUNF! Nojentas.




Isa Blue

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Terminal



Estou caminhando nos destroços da cidade
procurando um tesouro perdido
no alvoroço das elétricas tardes
lá onde o Rio faz a curva
Sou uma alucinada lata velha
sendo chutada pelos mendigos
eu criei minha casa pobrezinha
na boca do precipício
Eu almejo o cilício das chuvas
e o silêncio dos jovens políticos
e procuro asilo nas turvas
águas do fundo do poço
O açoite da faca amolada
é o que vejo nos olhos famintos
cheirando de tudo pelas calçadas,
esses animais ainda são meninos
e toda luta que eu conheço
é contra nós mesmos.
- Costumava-se ouvir uma lenda
sobre os antigos egípcios:
pintavam a cara para expulsar políticos. -
Estou vivendo sobre o lixo das cidades
procuro uma sombra para fechar meus olhos
e não tenho muitas escolhas
A humanidade está doente
neurótica, paranóica, parabólica
A sociedade está morta
e eu, em estado de coma permanente.



Isa Blue

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Às noites perfeitas



Foi uma noite maravilhosa num quarto maravilhoso, numa cama gigante numa paixão gigante com prazo de validade vencido. Incontestável que ele abriu os olhos e tentou abraçar o vazio não percebendo que ela já não estava, procurou o travesseiro mais próximo. Achando talvez que beijava a eternidade e por isso não encontrasse sua boca, ele abriu os olhos e chamou seu nome. Nem a cama gigante, nem a TV gigante, nem a banheira gigante responderam. Ele estava só num quarto gigante e sua solidão era maior que o quarto porque não sabia onde estava nem de onde vinha, não sabia porque estava lá quando era para a outra estar. Onde ela estava? Procurou pela suíte, não encontrou, foi até o carro, não viu, olhou debaixo da cama, dentro do armário, até pra fora da janela, será que ele tinha sonhado? Tentou o celular...desligado. Tentou se lembrar o que tinha feito, algo que tivesse falado, procurou algum bilhete algum papel amassado guardanapo com baton rastro pista fio de cabelo marca de pegada no tapete da saleta migalha de pão nada...Nada indicava que um dia alguém tivesse passado ali além dele. Ele começou a duvidar da realidade. Por que ela tinha sumido, por que nem tinha se deixado existir?

É que na verdade ela já estava muito longe, tão longe há tanto tempo que ela nem sabia se ainda existia.



Isa Blue