sábado, 28 de novembro de 2009

Vídeos Caseiros:

Dos poemas de Isa Blue no You Tube.



Destinação:
http://www.youtube.com/watch?v=30dJ7pKjwBU

Visualização:
http://www.youtube.com/watch?v=gAgKecd-L4o

Liberdade ("Borboletas..."):
http://www.youtube.com/watch?v=wguY7gEF3ww

Sociedade da Paranóia ("Gripe suína..."):
http://www.youtube.com/watch?v=ANhhZcYruNM

Química:
http://www.youtube.com/watch?v=DV0oyOWmvgk




Ointis!

Passagem






Apesar de ter estado pelo avesso
a parte de dentro, exposta
a parte de fora, imposta
Ter criado máscaras
para não ver que rolaram lágrimas
Eu desvirei minha cara
e consegui te olhar nos olhos sem doer
e consegui virar o rosto sem esconder
por conseguinte não te seguir
e ver na estrada apenas meus pés
a bagagem que trouxe
companheiros fiéis
e os passos trôpegos e tristes
se fizeram felizes
Eu sobrevivi à tua imagem
dei passagem ao tempo
e minhas mãos amarradas em sentimentos
que eu ainda alimentava
se libertaram e levaram as palavras
e lavaram minha alma pesada
Eu pude abrir meus olhos
e os seus olhos brilhavam
Sei que ali nascia alguma coisa doce
que distraída me abordava
um anjo de asas serenas que pousa
bem devagar nesse cruzamento
e cuspo na cara da solidão
vejo meus pés fixos no chão
e engulo meu passado
Nada em mim me sobra
eu não trago mais silêncios
Vim pintando essas pedras
que cantam pisadas
Eu acredito no amor e suas formas
e creio na transformação
no movimento
e na invencibilidade
do amor a favor das respostas
às aflições da alma
E chegou o momento
em que olhei pra trás
vi você e meus castelos ruídos
não senti mais nada
nem tristeza nem revolta
apenas olhei de longe
e dei as costas.


Isa Blue.

sábado, 21 de novembro de 2009

do que eu não tenho



Eu não guardo as palavras pra te ferir, sobraram palavras pra mim, que me serviram para jogar fora, impregnando estas paredes de silêncios.
E não guardo seus silêncios como punhal. Eu olhei as rosas no quintal, não quis arrancá-las pra te dar, eles eram mais belas longe de mim.
Não quis renascer das suas cinzas, nem quis fugir dos nossos limites, árvores nunca abraçaram ninguém. Não quis ir contra sua vontade, nem me fiz metade destruída, apenas fui o que sou, simples, eterna, contida.
Nos meus olhos não tem desejos de manhã nem frutas maduras de gosto afrodisíaco. Só tenho essa cara amarela e sem graça. Esse queixo muito grande, essas mãos esguias e um jeito de quem anda pra nunca chegar.
Não tenho em mim os mesmos sonhos que compartilhei em total ingenuidade. Não tenho em mim o amor que alimentei como fera selvagem. E é no espaço dele que crescem essas palavras, sementes do meu útero desvirginado.
Eu tenho uma tristeza profunda de quem olha pra baixo, muito embora pra dentro, e uma miopia que me deixa a desejar.
Lá fora eu tenho a coragem encouraçada nos meus tênis. E o mundo ancorado no meu coração. Não há laços que me parem nem braços que me amparem. Mas há mãos que me levantem.
Não tenho sorrisos que me sirvam; faço um novo. Não tenho estrelas cadentes; só ascendentes. Não tenho sentimentos que façam sentido; só fazem saudade.
Às vezes eu vejo folhas e penso ser borboletas, às vezes eu me vejo e penso ser amanhã. Nada me constrói mais do que as perdas.
Esses vazios me preenchem de esperança.


Isa Blue.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Só mais uma em prosa...




Será que conto? Ou será mais um ponto se fingir que sou outra coisa?



Se eu disser que sou forte e quero me divertir, beijar outras bocas, ver com outros olhos...Se eu disser que já esqueci e nem lembro mais do que vivi...Que mentira! Não posso colidir sua loucura na minha. Eu só quero saber como ser inteira outra vez, já que tudo que fiz foi me anular. Mas não quero sentir rejeição como da última vez, não posso me perdoar.


Às vezes eu sinto em você uma pitada de maldade, vontade de me atingir sem pensar. (Talvez seja sua forma de sofrer ou, quem sabe, sua forma de amar) Mas eu não quero mais morrer. E eu não posso me perdoar.


Peço perdão mas já não importa, quantas linhas tortas até chegar aqui? Eu não tive coragem de te afastar de mim. Por mais que me arranhe a solidão, estar sempre só, a noite invade meu peito e os uivos que sigo ao redor são de um passado remoto. Não há mais nada aqui. O vazio me divide. Eu peço reforços.


Eu preciso dizer que dói, caso você não tenha percebido; E talvez isso alivie o desespero de estar perdido. O meu coração pulsa procurando o seu. (As palavras querem sair, baby, mas a noite é muito grande e a lua é tão bonita, eu me recuso a distrair a obra do Artista.) E não posso mais me perdoar. Dentro dos seus olhos tem silêncio e cansaço. Não há nada que eu pense que mereça o fardo. Talvez eu não seja mesmo pra você. Mas o que é que eu faço pra tentar te esquecer?
 
 
 
Isa Blue.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Machado de Assis






Guarda estes versos que escrevi chorando
Como um alívio à minha soledade,
Como um dever de meu amor; e quando
Houver em ti um eco de saudade,
Beija estes versos que escrevi chorando.

 Único em meio das paixões vulgares,
Fui a teus pés queimar minh'alma ansiosa,
Como se queima o óleo ante os altares;
Tive a paixão indômita e fogosa,
Única em meio das paixões vulgares.


Cheio de amor, vazio de esperança,
Dei para ti os meus primeiros passos;
Minha ilusão fez-me, talvez, criança;
E pretendi dormir aos teus abraços,
Cheio de amor, vazio de esperança.


Refugiado à sombra do mistério,
Pude cantar meu hino doloroso;
E o mundo ouviu o som doce ou funéreo
Sem conhecer o coração ansioso,
Refugiado à sombra do mistério,


Mas eu que posso contra a sorte esquiva?
Vejo que em teus olhares de princesa
Transluz uma alma ardente e compassiva,
Capaz de reanimar minha incerteza;
Mas eu que posso contra a sorte esquiva?


Como um réu indefeso e abandonado,
Fatalidade, curvo-me ao teu gesto;
E se a perseguição me tem cansado,
Embora, escutarei o teu aresto,
Como um réu indefeso e abandonado.


Embora fujas aos meus olhos tristes,
Minh'alma irá saudosa, enamorada,
Acercar-se de ti lá onde existes;
Ouvirás minha lira apaixonada,
Embora fujas aos meus olhos tristes.


Talvez um dia meu amor se extinga,
Como fogo de Vesta mal cuidado,
Que sem o zelo da vestal não vinga;
Na ausência e no silêncio condenado,
Talvez um dia meu amor se extinga.


Então não busques reavivar a chama,
Evoca apenas a lembrança casta
Do fundo amor daquele que não ama;
Esta consolação apenas basta;
Então não busques reavivar a chama.


Guarda estes versos que escrevi chorando,
Como um alívio à minha soledade,
Como um dever do meu amor; e quando
Houver em ti um eco de saudade,
Beija estes versos que escrevi chorando.
 
 
(Machado de Assis - do livro "Crisálidas")
 
 
 
 
meu Machado preferido.

domingo, 8 de novembro de 2009

Na Gaiola dos Sentidos



A solidão rói meus olhos enquanto o relógio entorta. Não há hora mais longa que a espera. À noite o apito é mais agudo, é agulha furando o ar. O pesadelo batendo à porta, a ilusão de descansar, ainda que eu fosse só corpo. E o pensamento arde em meu rosto; o frio, a chuva e o desconsolo. Não quero deixar o sono ser mais forte que minha dor, preciso provar pro mundo que não terei mais sonhos quando você se for.
Mas eu caio no sono e você está igual, eu posso dizer que não foi um sonho normal:
Vejo os retalhos dos meus sonhos que vivenciei e creio que todos terminaram antes do fim. Qual foi a estrada que cortou caminho por mim? Quantos passos a estrada levou distante do espaço de meus horizontes, e está tudo claro agora. Há silêncios nos pássaros espaçados que perderam suas margens. Voaram procurando a liberdade e descobriram que a liberdade não tem vantagens.
Eu gostaria de encontrar o que me foi arrancado. Dentro da calma, um coração mutilado que se quebra e se recompõe só pra quebrar outra vez, em loop, como um disco arranhado.
Eu poderia ser um pássaro engaiolado, se me pedisse, e minhas grades lúdicas seriam como marquizes. Eu adoraria viajar debaixo de suas asas. E sua boca seria a única que bicaria com meu olhos de reserva, você me basta. Mas eu não sei se você saberia cuidar de um sentimento deste tipo. Ou se agora eu me contento só com o que tenho - meu amor, somente meu, o canto do pássaro com grades na tristeza - ou se vôo pra natureza. Mas enquanto minhas asas ainda estão dormentes e feridas, eu fico aqui nessa janela chamada vida, só vigiando teus gestos e me esquivando das pedras, desejando estar presa por um sentimento real, ou esquecer deste pesadelo de árvores e vento, de me prender à liberdade e levar você no pensamento.


Isa Blue