sábado, 21 de novembro de 2009
do que eu não tenho
Eu não guardo as palavras pra te ferir, sobraram palavras pra mim, que me serviram para jogar fora, impregnando estas paredes de silêncios.
E não guardo seus silêncios como punhal. Eu olhei as rosas no quintal, não quis arrancá-las pra te dar, eles eram mais belas longe de mim.
Não quis renascer das suas cinzas, nem quis fugir dos nossos limites, árvores nunca abraçaram ninguém. Não quis ir contra sua vontade, nem me fiz metade destruída, apenas fui o que sou, simples, eterna, contida.
Nos meus olhos não tem desejos de manhã nem frutas maduras de gosto afrodisíaco. Só tenho essa cara amarela e sem graça. Esse queixo muito grande, essas mãos esguias e um jeito de quem anda pra nunca chegar.
Não tenho em mim os mesmos sonhos que compartilhei em total ingenuidade. Não tenho em mim o amor que alimentei como fera selvagem. E é no espaço dele que crescem essas palavras, sementes do meu útero desvirginado.
Eu tenho uma tristeza profunda de quem olha pra baixo, muito embora pra dentro, e uma miopia que me deixa a desejar.
Lá fora eu tenho a coragem encouraçada nos meus tênis. E o mundo ancorado no meu coração. Não há laços que me parem nem braços que me amparem. Mas há mãos que me levantem.
Não tenho sorrisos que me sirvam; faço um novo. Não tenho estrelas cadentes; só ascendentes. Não tenho sentimentos que façam sentido; só fazem saudade.
Às vezes eu vejo folhas e penso ser borboletas, às vezes eu me vejo e penso ser amanhã. Nada me constrói mais do que as perdas.
Esses vazios me preenchem de esperança.
Isa Blue.
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