domingo, 8 de novembro de 2009

Na Gaiola dos Sentidos



A solidão rói meus olhos enquanto o relógio entorta. Não há hora mais longa que a espera. À noite o apito é mais agudo, é agulha furando o ar. O pesadelo batendo à porta, a ilusão de descansar, ainda que eu fosse só corpo. E o pensamento arde em meu rosto; o frio, a chuva e o desconsolo. Não quero deixar o sono ser mais forte que minha dor, preciso provar pro mundo que não terei mais sonhos quando você se for.
Mas eu caio no sono e você está igual, eu posso dizer que não foi um sonho normal:
Vejo os retalhos dos meus sonhos que vivenciei e creio que todos terminaram antes do fim. Qual foi a estrada que cortou caminho por mim? Quantos passos a estrada levou distante do espaço de meus horizontes, e está tudo claro agora. Há silêncios nos pássaros espaçados que perderam suas margens. Voaram procurando a liberdade e descobriram que a liberdade não tem vantagens.
Eu gostaria de encontrar o que me foi arrancado. Dentro da calma, um coração mutilado que se quebra e se recompõe só pra quebrar outra vez, em loop, como um disco arranhado.
Eu poderia ser um pássaro engaiolado, se me pedisse, e minhas grades lúdicas seriam como marquizes. Eu adoraria viajar debaixo de suas asas. E sua boca seria a única que bicaria com meu olhos de reserva, você me basta. Mas eu não sei se você saberia cuidar de um sentimento deste tipo. Ou se agora eu me contento só com o que tenho - meu amor, somente meu, o canto do pássaro com grades na tristeza - ou se vôo pra natureza. Mas enquanto minhas asas ainda estão dormentes e feridas, eu fico aqui nessa janela chamada vida, só vigiando teus gestos e me esquivando das pedras, desejando estar presa por um sentimento real, ou esquecer deste pesadelo de árvores e vento, de me prender à liberdade e levar você no pensamento.


Isa Blue

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