domingo, 25 de julho de 2010
Reputa-quem?
Nunca me preocupei com a minha reputação. Deve ser por isso mesmo que nunca a tive.
No colégio, era uma estrela apagada, sempre pelos cantos, fugindo das "aborrescentes" que implicavam comigo pelos motivos mais bestas do mundo; o cabelo arrepiado, o andar sorumbático, ser repetente, falar baixinho, a acne que me atacava... Não gostava dos colegas de sala, eram ricos, metidos e eu sempre ficava na minha. Elas sempre preocupadas em arrumar os cabelos. Eles sempre preocupados em serem os carrascos. Sempre me senti muito diferente.
Assim fui, até entrar pra poesia e descaralhar de vez. Sempre caguei dois quilos pro que as pessoas pensassem de mim. Se minha roupa estava suja, amassada ou furada. Se meu cabelo estava castanho, lilás ou de sete cores.
Se não tinha cadeira, sentava no chão. Se não tinha mesa, o copo estava no banco. Se tinha vontade de tomar uma cerveja, ia no boteco da esquina. O mais pé sujo, no meio dos bêbados e trovadores das madrugadas, lá estava eu, menina nova e já com uma péssima reputação.
Ah, o bar da esquina... Foi lá que eu comecei a perceber que esse negócio de reputação é um engano, talvez uma vingança, só serve para ser aplicado contra seus inimigos.
Chamavam de arara, na encolha, quando botava o cabelo de pé, eu nem aí.
Chamavam de vagabunda, de puta, por ficar com quem eu queria, eu mandava tomar...
Tudo muito às escondidas, pois quem me conhecia mesmo, achava era muito simpática.
A gente acha o que acha das pessoas, todos guardamos algum julgamento dentro de nós, pro bem ou pro mal, e externar ou não é só uma escolha, uma questão de saber conter sua língua.
Me viam com uma mulher, já diziam que eu era sapatão.
Me viam com um amigo e já diziam que era namorado, ficante, sainte, e até já recebi conselho de quem achava que eu estava apaixonada. Amigo também se abraça, ou será que não?
Nunca fui fã do "falem mal, mas falem de mim.", mas passei da menina sem-reputação para a menina com a pior reputação. Será que foi uma evolução?
Seja como for, quando eu morrer, vou virar santa.
Quando eu morrer, joguem minhas cinzas no boteco da esquina.
Isa Blue
domingo, 18 de julho de 2010
Presa Fácil
As grades do seu corpo
prenderam nossas almas
nas masmorras do castelo que construí.
Nunca fui cega
mas há correntes invisíveis
que prendem sem você sentir.
E pedra sobre pedra
quebra regras rasga fados
ninguém se livra por querer.
Estou presa em seus olhos
E a liberdade é o mal
que eu nunca desejei ter.
Isa Blue.
quarta-feira, 7 de julho de 2010
...Varrendo o Passado.
Sempre é preciso mais que um aviso
para se encontrar o caminho.
Meu passado é uma mentira.
Não quero mais
me esconder atrás de uma garrafa
pra fingir que todas as noites
são mágicas.
Se quando acordo
estou sempre só.
Se não me importo com nada.
É que só você sabe olhar a minha alma.
Eu não quero mais fugir
da solidão nas noites calmas.
Só quero o sossego do meu quarto
quando puder, os seus braços
e todos os outros pedaços,
que eu vou andando...
e se puder, uma amnésia relâmpago
que é pra não lembrar o quanto me traí
e quanto me perdi por aí
enquanto você não estava olhando.
As mentiras que eu criei
e o quanto magoei
aquele que confiava tanto.
Hoje, eu, que sempre condenei o tempo
só espero, com ânsia, que ele passe
correndo!
...varrendo todas as lembranças.
Isa Blue
terça-feira, 6 de julho de 2010
"Assassinas de pombos!"
Meu pai é daqueles que pegava passarinho na infância. Tinha trocentas gaiolas de todos os tipos. Sabe diferenciar um sabiá-laranjeira de um sabiá-coleira. Coisa que eu não faço nem a paulada! Eu sei o que é uma rolhinha, um pombo, uma coruja...mas bota um filhote de urubu e uma galinha preta na minha frente que eu não sei qual é qual. Me pergunta sobre cachorro, deixe os passarinhos com ele.
Teve uma época que ele cismou com pombos. Jogava milho pros pombos na rua e na pracinha. Muita gente reclamava e ele comprava todas as brigas por causa dos bichinhos. Não sei porque tanta gente odeia pombos. Dizem que transmitem doença. Se eu não me engano, nós também, e todo tipo de animal vivo. Aliás, somos nós quem jogamos lixo nas ruas e os obrigamos a comer nossos restos. É por isso que muitos ficam doentes e não podemos reclamar se transmitirem algo para nós.
Meu pai ficava observando os pombos, ainda em Ipanema, e se desconfiava que algum não estivesse se alimentando bem, pegava e levava pra casa. Já vieram pombos com pata ferida, pombos com coisas amarradas nas pernas, e até uma pombinha que estava com o bico necrosado. Esta última, não estava conseguindo comer, pudera, devia estar doendo pra caramba! Levamos ela no veterinário, meu pai chegou a dar antibiótico pra ela, enfiava uns grãozinhos dentro da boca dela, e ficava lá...na gaiola...o dia inteiro...esperando o resultado. No final, parte do bico dela caiu. Mas pelo menos estava curada. Meu pai resolveu que ia cuidar dela pro resto da vida. Lembre-se que o tempo médio de vida de um pombo é de 20 anos!!! Minha mãe e eu, como não estávamos nada felizes com essa história de pombo na gaiola, resolvemos soltá-la. Ele deu um escândalo. Por muito tempo fomos chamadas de "assassinas de pombos".
Eu fico pensando que merda de vida deve ser ficar presa numa gaiola com um maluco enfiando caroços pelo meu bico. Não queria ficar a vida inteira trancada numa gaiola para minha proteção. Eu prefiro morrer livre do que viver presa.
Na verdade, quem vai dizer se ela está viva ou não? Se ela morreu por não conseguir comer ou por outro motivo qualquer? Eu acredito na natureza, e acredito que ela conseguiu dar um jeito. Essa conversa de passarinhos-de-gaiola que não conseguem se virar quando soltos, é pura besteira. Eu tive um bem-te-vi que viveu comigo por quase um ano, numa gaiola, pois peguei ele caído do ninho. Uma vez o soltei na praça e ele, que nunca tinha tido contato com esse mundo, subiu numa árvore e começou a comer formigas. Todo animal quando se vê na rua, dá um jeito. Até um poodle é capaz de resgatar suas origens, seus instintos mais primitivos. Pois se até nós conseguimos virar selvagens...
Eu te desejo belos vôos.
Isa Blue.
sábado, 3 de julho de 2010
Pirando na piração dos outros
(nada melhor pra pirar do que uma Rê Bordosa.)
Escrever é solitário. É masturbação. Estava lendo um blog e comecei a ter espasmos literários.
De repente me lembrei das banalidades que tanto me incomodaram nos últimos dias. Eu não costumo reclamar das pessoas e suas futilidades, acredito que dentro dessa nossa humanidade haja espaço para todas as vertentes e ruas-sem-saída, mas não entendo e, confesso, tenho medo de entender o que faz um ser-humano definhar sua vida com garrafas de solidão.
Todos os dias ele está no bar, às vezes, irreconhecível de tão cinza. Tem cara daqueles velhos que vão ter derrame ao 65 anos e não passarão dos 72. Só fala abobrinhas. É abusado e recalcado. E me odeia porque eu nunca dei mole pra ele. Só o vejo com mulheres imaginárias.
Dias desses me disse um desaforo. Não tenho raiva. Seu semblante me enoja. Ele se junta com os seus e só os seus o aturam. Questão de energia. É um tipo que ninguém sente falta.
No bar existem todos os tipos de gente. Gente ruim, gente boa, gente analfabeta e gente pós-graduada, gente que mora em mansão e gente que mora na rua, gente casada e gente solteira, gente como a gente e gente que você nunca imaginou. O que mais tem é gente perdida, que lá no fundo sabe que está no lugar errado, mas falta um aviso luminoso em letras garrafais. Ou ainda, um motivo.
Eu não sou esse aviso luminoso - a nossa luz só atinge a quem se importa. - Recebi o meu. Decerto, estar em movimento é mais perigoso. Mas hoje olho aquelas moscas no bar batendo contra a luz e entendo o que são as igrejas, porque existe tanta gente cega. Quando se está perdido, não importa onde se está, se você estiver em grupo, estará confortável.
Meu carro vai sozinho pelas ruas e acho que essa liberdade os assusta, mas não posso parar, outros estão correndo do meu lado no mesmo fluxo. Me sinto viva. A noite ainda me incita, mas os avisos são bem grandes. À noite, as ruas são mais vazias. E eu gosto do vazio. De estar no aguardo para o próximo dia. Um lobo sóbrio e entorpecido pela lua. E se eu morrer não vai ser nos fundos de um bar, mas numa cama quentinha com meio metro de coração preenchido. Ainda peço duas garrafas de café. E não vou sozinha. A poesia vai comigo. E vai sorrindo.
Isa Blue
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