terça-feira, 6 de julho de 2010

"Assassinas de pombos!"




Meu pai é daqueles que pegava passarinho na infância. Tinha trocentas gaiolas de todos os tipos. Sabe diferenciar um sabiá-laranjeira de um sabiá-coleira. Coisa que eu não faço nem a paulada! Eu sei o que é uma rolhinha, um pombo, uma coruja...mas bota um filhote de urubu e uma galinha preta na minha frente que eu não sei qual é qual. Me pergunta sobre cachorro, deixe os passarinhos com ele.
Teve uma época que ele cismou com pombos. Jogava milho pros pombos na rua e na pracinha. Muita gente reclamava e ele comprava todas as brigas por causa dos bichinhos. Não sei porque tanta gente odeia pombos. Dizem que transmitem doença. Se eu não me engano, nós também, e todo tipo de animal vivo. Aliás, somos nós quem jogamos lixo nas ruas e os obrigamos a comer nossos restos. É por isso que muitos ficam doentes e não podemos reclamar se transmitirem algo para nós.
Meu pai ficava observando os pombos, ainda em Ipanema, e se desconfiava que algum não estivesse se alimentando bem, pegava e levava pra casa. Já vieram pombos com pata ferida, pombos com coisas amarradas nas pernas, e até uma pombinha que estava com o bico necrosado. Esta última, não estava conseguindo comer, pudera, devia estar doendo pra caramba! Levamos ela no veterinário, meu pai chegou a dar antibiótico pra ela, enfiava uns grãozinhos dentro da boca dela, e ficava lá...na gaiola...o dia inteiro...esperando o resultado. No final, parte do bico dela caiu. Mas pelo menos estava curada. Meu pai resolveu que ia cuidar dela pro resto da vida. Lembre-se que o tempo médio de vida de um pombo é de 20 anos!!! Minha mãe e eu, como não estávamos nada felizes com essa história de pombo na gaiola, resolvemos soltá-la. Ele deu um escândalo. Por muito tempo fomos chamadas de "assassinas de pombos".
Eu fico pensando que merda de vida deve ser ficar presa numa gaiola com um maluco enfiando caroços pelo meu bico. Não queria ficar a vida inteira trancada numa gaiola para minha proteção. Eu prefiro morrer livre do que viver presa.
Na verdade, quem vai dizer se ela está viva ou não? Se ela morreu por não conseguir comer ou por outro motivo qualquer? Eu acredito na natureza, e acredito que ela conseguiu dar um jeito. Essa conversa de passarinhos-de-gaiola que não conseguem se virar quando soltos, é pura besteira. Eu tive um bem-te-vi que viveu comigo por quase um ano, numa gaiola, pois peguei ele caído do ninho. Uma vez o soltei na praça e ele, que nunca tinha tido contato com esse mundo, subiu numa árvore e começou a comer formigas. Todo animal quando se vê na rua, dá um jeito. Até um poodle é capaz de resgatar suas origens, seus instintos mais primitivos. Pois se até nós conseguimos virar selvagens...
Eu te desejo belos vôos.


Isa Blue.

Um comentário:

  1. OI ISA

    TEXTO ESPETACULAR E ABSOLUTAMENTE, PROFISSIONAL.

    NÃO CONHECIA O SEU BLOG.

    ACHEI REALMENTE, MUITO INTERESSANTE E TENHA A CERTEZA DE QUE VOLTAREI SEMPRE AQUI.

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