sábado, 3 de julho de 2010

Pirando na piração dos outros

(nada melhor pra pirar do que uma Rê Bordosa.)



Escrever é solitário. É masturbação. Estava lendo um blog e comecei a ter espasmos literários.
De repente me lembrei das banalidades que tanto me incomodaram nos últimos dias. Eu não costumo reclamar das pessoas e suas futilidades, acredito que dentro dessa nossa humanidade haja espaço para todas as vertentes e ruas-sem-saída, mas não entendo e, confesso, tenho medo de entender o que faz um ser-humano definhar sua vida com garrafas de solidão.
Todos os dias ele está no bar, às vezes, irreconhecível de tão cinza. Tem cara daqueles velhos que vão ter derrame ao 65 anos e não passarão dos 72. Só fala abobrinhas. É abusado e recalcado. E me odeia porque eu nunca dei mole pra ele. Só o vejo com mulheres imaginárias.
Dias desses me disse um desaforo. Não tenho raiva. Seu semblante me enoja. Ele se junta com os seus e só os seus o aturam. Questão de energia. É um tipo que ninguém sente falta.
No bar existem todos os tipos de gente. Gente ruim, gente boa, gente analfabeta e gente pós-graduada, gente que mora em mansão e gente que mora na rua, gente casada e gente solteira, gente como a gente e gente que você nunca imaginou. O que mais tem é gente perdida, que lá no fundo sabe que está no lugar errado, mas falta um aviso luminoso em letras garrafais. Ou ainda, um motivo.
Eu não sou esse aviso luminoso - a nossa luz só atinge a quem se importa. - Recebi o meu. Decerto, estar em movimento é mais perigoso. Mas hoje olho aquelas moscas no bar batendo contra a luz e entendo o que são as igrejas, porque existe tanta gente cega. Quando se está perdido, não importa onde se está, se você estiver em grupo, estará confortável.
Meu carro vai sozinho pelas ruas e acho que essa liberdade os assusta, mas não posso parar, outros estão correndo do meu lado no mesmo fluxo. Me sinto viva. A noite ainda me incita, mas os avisos são bem grandes. À noite, as ruas são mais vazias. E eu gosto do vazio. De estar no aguardo para o próximo dia. Um lobo sóbrio e entorpecido pela lua. E se eu morrer não vai ser nos fundos de um bar, mas numa cama quentinha com meio metro de coração preenchido. Ainda peço duas garrafas de café. E não vou sozinha. A poesia vai comigo. E vai sorrindo.

Isa Blue

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