terça-feira, 20 de março de 2012

O Choro do Sertão

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(pintura "Lavadeiras" de Carybé)




O poema de hoje tem uma história bem-sucedida. Eu tinha emprestado meu caderno para uma amiga copiar a matéria e ela ficou de me devolver outro dia. Então ela estava no ônibus indo para a escola quando sentou um senhor ao lado dela e  começaram a conversar sobre poesia. Como todos meus livros e cadernos tinham desenhos e poemas, ela mostrou meu poema para este senhor, que imediatamente pediu para gravá-lo. Era hobby dele declamar poemas e gravá-los em K7. Ela me passou o telefone dele, nos falamos, e ele acabou gravando este poema junto com outros dele e do pai dele e me deu uma cópia da fita. Claro que eu não faço a menor ideia de onde este material se encontra. Mas foi meu primeiro poema que teve algum reconhecimento além de parentes, amigos e professores. Preferi transferi-lo pra cá do mesmo jeito que o escrevi, aos 17 anos.



O CHORO DO SERTÃO

Lágrimas fechadas, zeladas com pesares
As águas amargas do choro dos humildes
Nas costas dos covardes, capitalistas, assassinos!
O caminho do pecado, o rastro de sangue
Das mágoas correndo pela vala de terra
Levando a cada gota a realidade e a dor.

Choro do povo sofrido, do corpo ferido, do pé no chão
Choro da fome que sobressai nos gritos agudos da escuridão
O massacre dos homens de terno contra os de chinelo
Levando a lembrança da comunidade no peito do bem-te-vi amarelo.

Cantando, o riacho desanda, assobia no resto de mata
A mata amarelo-amarronzada, a cor da pele do povo
Lavando a roupa suja e o corpo suado no riacho
O esforço pesado, o martelo, a pá, o sol forte, o calo na mão
O corpo curvado, o reumatismo sem trato, o tuberculoso
O trabalho escravo, semi-escravo, sempre alvo.

Choro dos inocentes, da parte miserável da população
Choro das mães desesperadas vendo seus filhos morrendo de desnutrição
O elo que liga os senhores de capital com o inferno da exploração
Tudo isso que o riacho leva lavando a vida lá no sertão.


Isa Blue
13-08-2003

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