sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Mãos de tesouros




Por muito tempo deixei as coisas práticas em segundo plano, achando que se já sabia a teoria e sabia como devia ser, então não precisava praticar. Erro. 10 pontos a menos na carteira.
- Às vezes não me reconheço quando olho no espelho. É necessário que alguém me olhe e diga o que vê. E não é todo mundo que aceita fazer isso de graça, assim sem cobrar nada. -
Mas chega um determinado momento que as teorias se limitam. É preciso viver além de letras e vozes.
A poesia é o meu recreio, é onde consigo viver e escrever sobre o que sinto, e não falar apenas sobre a mudança de tempo ou o trânsito intenso. Deve ser por isso que tento levar a poesia e disseminar pelo mundo real. Para unir as pessoas que sentem e não apenas passam.
Muitas pessoas já passaram por mim e disseram que poesia não leva a nada. A essas, meus mais profundos pêsames, elas já não sentem, pode enterrar.
A poesia luta para achar espaço entre as artes mais rentáveis. Quem consegue sobreviver apenas disso, ou deu muita sorte ou foi muito esperto. Mesmo assim eu insisto. Porque não sei de que outro modo poderia ser. Não é mais uma escolha, é uma condição.
Por que escrevo? Escrevo porque me sinto viva. Vai perguntar pro passarinho porque ele tem asas, vai perguntar por que a chuva é molhada, pergunta pras folhas amarelas por que elas se suicidam...Com licença de Paulo Leminski, "Escrevo e pronto. Escrevo porque preciso. Preciso porque estou tonto. Ninguém tem nada com isso!"


Motivo
(Cecília Meirelles)

Eu canto porque o instante existe
E minha vida está completa
Não sou alegre nem sou triste;
Sou poeta.

Irmão das coisas fugidias
Não sinto gozo nem tormento
Atravesso noites e dias
Ao vento.

Se desmorono ou edifico
Se permaneço ou me desfaço
Não sei, não sei
Não sei se fico ou passo.

Sei que canto e a canção é tudo
Tem sangue eterno e asa ritmada
E um dia, sei que estarei mudo
Mais nada.



Sobre a Criação
(Isa Blue)

Não é meu
Não é meu o poema que escrevo
plagiei a idéia do inconsciente humano
roubei a criação de deus
para divinar o poeta, confesso
o poeta, e não o poema.
Mas vergonha maior é Ter feito eterno
todos os poemas
e etéreos todos os poetas
para que nunca se encontrem neste plano
Não é meu
Não é meu o poema
eu nem escrevo poemas
Eu escrevo o desejo de encontrar o poema
e dilacerá-lo pela minha saudade
das coisas que eu nunca vi
escondidas nas suas linhas.
Não é meu
Não é meu o poema
agora está feito
é do mundo, de quem o lê
dê os direitos autorais ao poema
é o poema quem escreve o poeta
minha criação já estava criada antes de mim
eu só passei para vê-la
e em vez de vê-la,
senti, sentei e escrevi.


O poeta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Expresse-se.