sábado, 28 de novembro de 2009

Passagem






Apesar de ter estado pelo avesso
a parte de dentro, exposta
a parte de fora, imposta
Ter criado máscaras
para não ver que rolaram lágrimas
Eu desvirei minha cara
e consegui te olhar nos olhos sem doer
e consegui virar o rosto sem esconder
por conseguinte não te seguir
e ver na estrada apenas meus pés
a bagagem que trouxe
companheiros fiéis
e os passos trôpegos e tristes
se fizeram felizes
Eu sobrevivi à tua imagem
dei passagem ao tempo
e minhas mãos amarradas em sentimentos
que eu ainda alimentava
se libertaram e levaram as palavras
e lavaram minha alma pesada
Eu pude abrir meus olhos
e os seus olhos brilhavam
Sei que ali nascia alguma coisa doce
que distraída me abordava
um anjo de asas serenas que pousa
bem devagar nesse cruzamento
e cuspo na cara da solidão
vejo meus pés fixos no chão
e engulo meu passado
Nada em mim me sobra
eu não trago mais silêncios
Vim pintando essas pedras
que cantam pisadas
Eu acredito no amor e suas formas
e creio na transformação
no movimento
e na invencibilidade
do amor a favor das respostas
às aflições da alma
E chegou o momento
em que olhei pra trás
vi você e meus castelos ruídos
não senti mais nada
nem tristeza nem revolta
apenas olhei de longe
e dei as costas.


Isa Blue.

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