terça-feira, 22 de junho de 2010

Senzala



A Casa-Grande estava desolada pelo espanto
o sol nem sabia se entrava ou saía
Vestidos de seda caçavam meninas antigas
em seus cabelos tranças cheiravam à épocas distantes
Um indício de vento subia pelos bigodes do senhor
e sua cara se tornava mais amassada ainda
quando berravam as chicotadas podia se ter certeza que o cavalo era negro
e as carroças sempre traziam a tarde com elas
num barraco muito pobre a África cantava
que mesmo debaixo do inferno nunca se perdeu da sua magia
alguns fugiam na noite e viravam poeira
algumas deitavam seu corpo e esqueciam suas almas
muitos foram animais
todos foram gente
Tanto tempo se passou que o tempo se perdeu
e veio gente da cidade
A família nova não sabia o que era essa sombra
debaixo da soleira da porta
mandaram tirar aquele tronco do meio do pátio
construíram um campo de futebol
Às vezes se ouvia uma cantoria no fundo do quintal à noite
O lugar tinha lá suas considerações finais.




Isa Blue

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